terça-feira, 16 de junho de 2009

Entevista com SW-Team - Autores de "Swing - Diário de Bordo"

OpenMind: Como é que um casal decide que quer ser swinger?


Sw-Team – Esse casal conversa muito, partilha as suas fantasias e quando descobrem que têm essa fantasia em comum, avançam, arriscam. Mas só devem avançar se estiverem muito certos do que estão a fazer.


OM – E como sabem que estão certos e preparados para o fazer?


SW – Descobrem quando já falaram muito sobre o assunto e quando já brincam com a situação com algum à vontade, imaginando-se em cenário real sem sentirem repulsa ao verem o companheiro(a) ser tocado por um elemento alheio à sua relação a dois. Sabem-no quando se confrontam com os dilemas ciúme e sentimento de posse e se sentem capazes de ultrapassar esses obstáculos.


OM - Quando decidiu, com a sua mulher, entrar no mundo do swing já tinha a ideia de escrever um livro?


SW: Escrever é algo que faz parte de mim, tenho outros livros publicados que não fazem alusão ao mundo swinger. Mas a resposta é não, porque a ideia do livro sobre o tema surgiu apenas ao fim de ano em meio de nos iniciarmos no meio.


OM - Swingers sentem ciúmes?


SW - Sim, sentem-no em determinadas situações. Mas são capazes de ser superiores a esse ciúme, quando outros valores se levantam...


OM - Que tipo de valores?


SW - Um swinger valoriza o momento, o bem estar da pessoa amada, o prazer do companheiro(a). Ao valorizar estes factores atira o ciúme para segundo plano porque sabe que esse ciúme não é compatível com a plenitude das fantasias que o seu companheiro(a) gostaria de experimentar para ter esses momentos, esse bem estar, esse prazer. O ciúme limita, a conduta swinger liberta.


OM – E como é a primeira vez? Vão a um clube e conhecem alguém com quem simpatizam e convidam-nos a passar a noite convosco?


SW – Antes de se frequentar um clube ainda há um longo caminho a percorrer. Provavelmente há quem comece assim, porque alguém do meio os tentou convencer a entrar no meio e quis mostrar-lhes o ambiente de um clube swinger, mas a verdade é que é raro alguém envolver-se na sua primeira ida a um clube liberal. Há excepções à regra, mas a maioria dos casais entra a primeira vez num clube para conhecer, para se ambientar e se nunca fizeram swing anteriormente também não é nessa noite que o vão fazer pela primeira vez, muito provavelmente.


OM. – Então, o que há antes da ida a um clube liberal?


SW – No nosso caso - e só podemos falar por nós -, começámos a visitar websites dedicados ao tema, entrámos em fóruns, criámos um website onde colocámos informações sobre o nosso perfil e algumas fotos nossas em poses ousadas, partilhámos o nosso contacto de MSN com alguns casais do meio e regra geral tudo começa com conversas que surgem com esses casais. Até os convites para ir conhecer os clubes swingers surgem, regra geral,nessas conversas.


OM – E quando dão o passo de se relacionar com alguém pela primeira vez?


SW – Quando já demos uma volta pelos meandros e percebemos que estamos preparados para avançar. Tentamos conhecer o melhor possível as pessoas com quem vamos estar, criar alguma química, etc. Regra geral trocam-se fotos, fazem-se elogios, lançam-se provocações e tudo isto ajuda a criar ambiente para o dia D. Quando surge o encontro, a conversa pode começar por algo que não tem nada a ver com o tema mas irremediavelmente tem de ir lá parar para se criarem as condições para alguém tomar a iniciativa de avançar.


OM – E depois do acto, quais os sentimentos que tomam o casal?


SW – Nas primeiras vezes, alguma confusão. Um turbilhão de sentimentos e emoções que se confundem. Algum medo dos sentimentos da pessoa amada, alguma culpa, algum receio de que mude alguma coisa, mas depois de percebermos que a pessoa amada está do nosso lado da mesma forma que no dia anterior, esses sentimentos são de imediato substituídos por um sentimento que traz tranquilidade, união e sobretudo uma maior cumplicidade entre o casal. O amor, a paixão e o sexo não são factores de forma alguma prejudicados pela decisão e muitas vezes esses laços são até reforçados.


OM – Concorda quando alguns dizem que o swing é a traição consentida?


SW – Se é consentida, já não é traição. Traição implica mentira, jogos de escondidas e muitas vezes até demonstrações de mau carácter. São ingredientes que não existem no acto do swing em si. O que é consentido é que as fantasias do seu parceiro sejam desfrutadas na sua plenitude sem que ninguém o culpe por isso e sem que este precise de lhe mentir para desfrutar dessas fantasias.


OM - Durante as relações com outros casais, alguma vez o preocupou que a performance do outro membro masculino pudesse agradar à sua mulher ao ponto de ela querer repetir mais vezes encontros com aquela pessoa?


SW: Todos temos formas diferentes de dar prazer, e isso proporciona uma variedade de experiências no meio swinger. Se a minha companheira gosta de estar com alguém não implica que já não goste de estar comigo. Se não quisesse que a outra pessoa tivesse uma boa performance junto da minha esposa, não arriscaria entrar neste meio. Faço questão de que ela se divirta ao máximo enquanto está a desfrutar daquele momento, porque ela pode ter a certeza que eu vou fazer o mesmo. A vontade de repetir com determinadas pessoas por vezes surge e havendo concordância, acaba por acontecer. Contudo, a nossa confiança no que sentimos um pelo outro afasta todos esses medos de que o nosso companheiro(a) possa apaixonar-se por alguém e deixar-nos por essa pessoa.


OM: Uma questão prática: Se dois amigos, liberais em relação a estas questões do sexo, decidirem entrar no mundo do swing mesmo não se tratando de um casal (mas actuando como tal) isso é possível? Existem casos destes?


SW: Sim, existem de certeza muitos casos destes. Pessoas que não são propriamente um casal, mas que pela sua abertura em relação ao assunto, acabam por se envolver no meio e comportam-se como casais. Contudo, a sinceridade é a virtude a que os verdadeiros swingers dão maior importância, pelo que quem não vier com intenções sinceras não se dará bem no meio por muito tempo.


OM - Ao ler o seu relato ficamos com um quadro claro do universo swing português e principalmente das coisas boas que pode ter. Existem coisas menos boas? Quais são os riscos?


SW: Existem coisas boas e coisas más. Existem pessoas bem intencionadas e pessoas más intencionadas, como em qualquer meio social que se faça representar na nossa sociedade. O principal risco de entrar no universo swing, é entrar sem ter a certeza do passo que se está a dar, sem conversar bastante sobre o assunto e sobre as barreiras que possam ir surgindo. Jamais entrem no swing com a ideia de que este meio pode salvar um casamento. Se o casamento não está bem, o swing vai piorar o estado desse casamento. Deve entrar-se no swing com confiança, determinado e quando a relação está de facto sólida. Aí, o swing tem um papel fundamental de apimentar a realidade sexual do casal.


OM - E na vossa relação, nunca houve problemas por causa do swing?


SW: Como qualquer casal, temos os nossos pequenos 'arrufos' de quando em vez, e embora raros, a verdade é que nunca nenhum desses 'arrufos' se deu com causa-efeito na nossa experiência swinger. O swing nunca nos trouxe qualquer problema.


OM – Os seus familiares e amigos sabem que vocês são um casal swinger?


SW – Existem meia dúzia de pessoas que sabem, mas na sua grande maioria não. Existem até os que desconfiam mas não têm a certeza. Não andamos por aí a fazer publicidade a algo que sabemos que pode não ser bem aceite por estes, pois conhecemos a nossa mentalidade e sabemos que ambos partilhamos dos mesmos ideais e ideias, mas não podemos obrigar os outros a partilhar das mesmas e a aceitá-las, pelo que preferimos assumi-las apenas no seu ambiente próprio, sem estarmos sujeitos à descriminação de uma sociedade muito recta, mesmo que debaixo de mascaras. Sermos swingers é algo que só nos diz respeito a nós, como casal, não precisamos de partilhar as nossas decisões com os outros. Também não lhes vamos perguntar que posições experimentaram durante a noite anterior, é algo do foro íntimo do casal.


OM – Qual acha que seria a reacção das pessoas que lhe são mais próximas se descobrissem?


SW – Teriam de se habituar à ideia, como os que já souberam se habituaram. Esses não pareceram ficar muito chocados depois de falarmos um pouco sobre o assunto e sobre os nossos sentimentos em relação a isso. Os que não sabem não teriam outra hipótese se não habituar-se e aceitar também, porque eu não iria mudar as minhas ideias só porque estes acham que a vida deve ser vivida em monogamia sexual associada à monogamia social e emocional, onde mesmo assim e às escondidas a infidelidade existe a cada porta que se bata. Se descobrissem, teriam de respeitar as minhas escolhas tal como eu respeito as escolhas de toda a gente. Contudo, acredito que iria ser objecto de descriminação e imensas lavagens cerebrais.

OM - Acham que a sociedade ainda é muito preconceituosa em relação a este tema?


SW: A sociedade é por norma preconceituosa em relação a escolhas que diferem do que está dentro de certos parâmetros pré-concebidos por determinadas políticas, filosofias e religiões. Com os anos a passarem e com as diferentes escolhas a imporem-se em determinadas situações, a verdade é que já se sente maior abertura da parte da sociedade nessas determinadas situações, mas há ainda um longo percurso a percorrer.


OM - Se pensam continuar a praticar swing, como vai ser com o vosso filho? Sentem que isso é uma dificuldade?


SW: Temos dois filhos e eles são um complemento da nossa vida, não uma barreira. Com uma gestão equilibrada do tempo e das prioridades, há tempo para tudo na vida.


OM – Frequentam clubes de swing com alguma regularidade?


SW – Vamos a um clube de swing, talvez, uma vez por mês. Regra geral, vamos ao X-Clube, o mais conhecido, mas já fomos conhecer outros, tais como o Erotikus, também em Lisboa, o 2@2, em Coimbra, e o Intimidades, no Porto. Depois, vamos alternando as nossas idas aos clubes com convívios em casas particulares ou em móteis, saídas a lugares comuns e outras formas de passar o nosso tempo, social e swinger.


OM - Se pudesse definir em percentagem diria que o swing ocupa quanta da parte do vosso tempo como casal?


SW - Isso é uma excelente questão. Eu diria que 20%, não mais com toda a certeza, embora possa transparecer o contrário no livro, porque o mesmo se enquadra somente na nossa vida swinger e não relata o resto do nosso tempo passado com os amigos, com os livros, o teatro ou o cinema, nos cafés, na praia ou simplesmente no calor do nosso lar.




OM - Como conseguem separar o mundo swinger do mundo natural de onde vinham antes de enveredarem por este caminho?


SW – Com naturalidade. Arranjamos forma de viver nos dois mundos e num só de forma equilibrada.


OM – Como sabem que um casal está interessado em estar convosco?


SW – Tal como uma mulher sabe que um homem a cobiça, que alguém desenvolve uma química ela. As palavras atracção, química, sensualidade, simpatia aplicam-se na relação entre casais swingers tal como se aplicam na natural relação entre um homem e uma mulher que suponho que saiba como acontece.


OM – Pelo facto de optarem por uma determinada liberdade sexual, não temem contrair doenças nessa forma tão liberal de se relacionarem com os outros?


SW – Não. Precavemo-nos sempre contra esse tipo de riscos. Somos pessoas seguras do que fazemos e como tal fazê-mo-lo sempre com segurança, respeitando o uso do preservativo e exigindo sempre de nós e dos outros que as regras de higiene sejam cumpridas.


OM - Que perspectivas têm para o vosso livro? Não temem que atinja apenas o público que possa ter alguma curiosidade em entrar no mundo swinger. Não acham que o público mais preconceituoso não vai ousar pegar no livro, mesmo que tenha curiosidade.


SW - Julgo que pode equiparar-se esse sentimento ao mesmo sentimento que invade um jovem que vai comprar preservativos, alguém que vai alugar um filme pornográfico ou um senhor que vai pedir viagra a uma farmácia. Vacilam, mas a verdade é que compram. Julgo que podemos ter a sorte de acontecer o mesmo...


OM - Para terminar, acha que esta escolha pelo meio swing? Foi de alguma forma um meio de apimentar a vossa relação?


SW – De apimentar, de certeza absoluta que sim. Se nos uniu mais? Tornou-nos mais cúmplices. Afinal, temos um segredo só nosso. E tornou-nos sexualmente mais abertos, também. Se melhorou o nosso amor? Não creio, porque esse nunca teve em risco, tal como nunca teve em risco a nossa paixão e atracção um pelo outro. Não entrámos no swing para salvar o casamento, e nem acreditamos que o swing salve o casamento de alguém. Pelo contrário, porque se o casamento de alguém não estiver sólido e não houver muita confiança entre o casal, o swing vai ajudar a acabar com esse casamento. É preciso muita confiança no outro e em si próprio para entrar neste meio...
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O livro "Diário de Bordo" estará nas bancas a partir do dia 19 de Junho...

4 comentários:

  1. Se alguém tiver mais questões a colocar, deixe aqui nos comentários que os Sw_Team terão todo o prazer em responder ;)

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  2. Agradecendo a visita ao meu ninho, desde já acho que este Blog vai ter muita essência e demasiada mística ... Veremos se tenho razão ou não !...pelo menos assuntos estimulantes não vão faltar ... Boa continuação e até breve.

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  3. Olá, adorei a entrevista ao casal SW-Team. Gostaria de colocar uma questão, que nunca a vejo colocada:
    E uma(ou numa) situação de swing em que um homem toque noutro homem, será possivel?...
    ass.mbemcasados

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  4. Desde há muito sou uma pessoa interessada em tudo o que respeita ao comportamento humano, particularmente no que concerne aos relacionamentos em geral, e aos afectivos em especial.
    A descoberta do "Swing - Diário de bordo" deixou-me apaixonado pela ocasional leitura da passagem: "Uma coisa é certa, o swing é óptimo, traz experiências maravilhosas e faz-nos viver o sexo com uma intensidade excelente, mas não há ninguém como o nosso parceiro habitual para nos fazer sentir certas emoções...".
    Depois de ler o livro ficou-me uma vontade imensa de chegar à conversa com o SW-TEAM. Será que vos encontro?
    Wolfang Zerbino (pseudónimo por razões óbvias)

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